Tarefa escolar em Pomerode pede que crianças usem feijão para representar cabelo crespo em desenho; aluno colocou bombril

  • 27/11/2024
(Foto: Reprodução)
Atividades, feitas em alusão ao Dia da Consciência Negra, estavam expostas em mural da escola, mas foram retiradas após repercussão nas redes sociais. Secretaria de Educação municipal diz que apura o caso. Denúncia de racismo: Atividade para Dia da Consciência Negra em escola de SC é questionada Uma atividade escolar em Pomerode, Santa Catarina, pediu a alunos do 2º ano do ensino fundamental que preenchessem o cabelo de uma mulher negra com grãos de feijões. Um deles foi feito com palha de aço (conhecido popularmente como bombril). A tarefa, apresentada em um mural sobre o Dia da Consciência Negra na Escola de Educação Básica Municipal Duque de Caxias, repercutiu nas redes sociais. Os trabalhos foram retirados da exposição e o caso é apurado, informou a Secretaria de Educação municipal. ✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp A atividade, pedida aos alunos por um professor, consistia em uma folha de papel com o desenho de uma mulher negra. O enunciado dizia "Pinte a imagem e recrie o cabelo afro de uma mulher, em alusão do dia da consciência negra, usando grãos de feijão. Use sua criatividade e capriche". Entregues em 8 de novembro, os trabalhos dos alunos foram expostos na escola até segunda-feira (25). No sábado (23), as imagens repercutiram nas redes sociais após a publicação da familiar de um estudante. A Associação de Educadores Negros de Santa Catarina também se manifestou sobre o caso (veja nota na íntegra mais abaixo). "Qual a relação do cabelo com a aula que a professora ministra?", disse a presidente da Associação de Educadores Negros de Santa Catarina, Maria Aparecida Rita Moreira. A Secretaria de Educação de Pomerode, em conjunto com a direção da escola, disse em nota que "iniciou imediatamente uma apuração rigorosa dos fatos" (leia íntegra abaixo). Repercussão Nas redes sociais, a familiar de um aluno publicou fotos da atividade e prints de uma conversa que teve com a instituição, onde questionava a intenção da atividade. "Nem feijão, nem palha de aço nem nada, cabelo é cabelo ué. Atividade tosca, Meu Deus", publicou. O g1 optou por não publicar o nome da familiar para não identificar a criança. "Vai ver o bombril, vai ver o feijão, e a primeira criança com cabelo black que ela vir, ela vai falar sobre isso, vai perguntar se tem feijão no cabelo da criança. Ou pior, falar que é bombril!", declarou a familiar. Professora aposentada da Rede Estadual de Santa Catarina, a doutora em educação Maria Aparecida Rita Moreira questionou também se a atividade busca desconstruir estereótipos ou reforçá-los. "Qual a relação do cabelo com a disciplina que a professora ministra? Muitas pessoas negras carregam marcas negativas de sua trajetória escolar, espaço que deveria ser de empoderamento, de positividade e de esperançar. A educação precisa ser lugar de emancipação". "Nosso cabelo não é de Bombril. Nosso cabelo é lindo e está ligado à nossa identidade e a nossa ancestralidade. Respeitem!", finalizou a presidente. Aluno cola bombril para representar cabelo de mulher em atividade escolar para Dia da Consciência Negra em SC Reprodução O que diz a Associação de Educadores Negros de Santa Catarina Confira abaixo a nota completa da presidente da associação. Há 21 anos temos uma lei que obriga professoras/es da Educação Básica a pautarem as temáticas africanas e afro-brasileira em seus currículos: a Lei nº10.639. Esta Lei possui dois artigos: o 26-A e o 79-B, porém muitas escolas se atém apenas ao Art. 79-B e realizam projetos pontuais, para as comemorações do dia da Consciência Negra e, como resultado, professoras/es fazem exposições tais como as das imagens que recebi. Observando as imagens, vários pontos podem ser levantados: a falta de formação inicial das/os profissionais de educação, importante lembrar que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana de 2004 prevê para o ensino superior a inclusão “nos conteúdos de disciplinas e em atividades curriculares dos cursos que ministra, de Educação das Relações Étnico-Raciais, de conhecimentos de matriz africana e/ou que dizem respeito à população negra” (p.24); a necessidade de formação continuada por parte das secretarias de educação, garantindo diálogo constante sobre de que forma o racismo afeta as relações étnico-racias e a importância da inserção dos conteúdos previstos no art. 26-A da LDB e suas Diretrizes no planejamento das/os profissionais de educação; o acompanhamento e diálogo da gestão e equipes pedagógicas das escolas no desenvolvimento das práticas educativas e na organização de mostras no espaço escolar; o comprometimento da/o profissional da educação ao desenvolver uma atividade com suas/seus estudantes, questionando – qual o objetivo da atividade? A atividade desconstrói ou mantém estereótipos?, para essa atividade específica, ainda é possível indagar - Qual a relação do cabelo com a disciplina que a professora ministra? Muitas pessoas negras carregam marcas negativas de sua trajetória escolar, espaço que deveria ser de empoderamento, de positividade e de esperançar. A educação precisa ser lugar de emancipação e, como lembra Nilma Lino Gomes, a ação do racismo sobre os negros, “[...], o cabelo e a cor da pele podem sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra, assumindo uma significação política.” e nesse sentido, todos os envolvidos no processo educacional formal têm responsabilidades e precisam urgentemente assumi-las. Nosso cabelo não é de Bombril. Nosso cabelo é lindo e está ligado à nossa identidade e a nossa ancestralidade. Respeitem! Dra. Maria Aparecida Rita Moreira Professora aposentada da Rede Estadual de Santa Catarina O que diz a Secretaria de Educação de Pomerode Veja na íntegra a nota da Secretaria de Educação de Pomerode. A Secretaria Municipal de Educação e Formação Empreendedora assim que tomou conhecimento do ocorrido, iniciou imediatamente uma apuração rigorosa dos fatos, seguindo os protocolos necessários para responsabilizar os envolvidos e garantir que medidas sejam adotadas para prevenir situações semelhantes. O ocorrido, trata-se de um fato isolado, em uma escola, em uma turma específica e de apenas um aluno, considerando que os demais alunos usaram outros materiais para fazer a atividade. Além disso, ações educativas e formativas continuarão a ser intensificadas no sentido de reforçar os princípios de igualdade e respeito no ambiente escolar. A Secretaria entende que o papel da escola é fundamental na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Prova disso foi que no último dia 21 de novembro, a Secretaria Municipal de Educação e Formação Empreendedor promoveu o segundo Sarau Literário da Consciência Negra, momento de reflexão e discussão do tema envolvendo todas as unidades de ensino da Rede Municipal de Ensino. O Sarau foi a exposição publica do trabalho que cotidianamente vem sendo realizado nas unidades escolares da Rede Municipal de Educação em cumprimento da Lei nº 10.639/2003, que inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Além disso, foi proporcionado formação continuada aos professores, bem como aquisição de material de autoria de um especialista em Cultura Africana e afro-brasileira para educação das relações étnico-raciais que foi trabalhado com os alunos da rede municipal de educação. Reafirmamos nosso compromisso com a promoção de uma educação que valorize a diversidade, respeite os direitos humanos e combata todas as formas de preconceito e discriminação. ✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias

FONTE: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2024/11/27/tarefa-escolar-em-pomerode-pede-que-criancas-usem-feijao-para-representar-cabelo-crespo-em-desenho-aluno-colocou-bombril.ghtml


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