Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho
17/12/2025
(Foto: Reprodução) Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho
A Prefeitura de Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, informou no final da tarde desta quarta-feira (17) que vai publicar um decreto para revogar a prática de nudismo na Praia do Pinho. O município disse que apresentou nesta quarta a minuta do documento que proíbe o naturismo ou qualquer outra prática semelhante nas praias da cidade.
A Praia do Pinho é a primeira praia de naturismo do Brasil. Em nota, a Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifestou "preocupação e pesar" diante da medida. "Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza" (leia a nota completa no fim do texto).
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Nudismo passa a ser proibido na Praia do Pinho, em Balneário Camboriú
O decreto para revogar a prática foi apresentado às associações de moradores das praias agrestes e às forças de segurança.
🏖️ Naturismo é uma filosofia que prega autorrespeito, autoconhecimento, respeito ao próximo, alimentação saudável e preservação da natureza. Dentro deste modo de viver, também está a prática de nudismo social.
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Praia do Pinho, em Balneário Camboriú
Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau/Divulgação
A prefeitura disse que, ao longo dos anos, a Praia do Pinho perdeu o verdadeiro sentido de uma praia de naturismo e passou a ser utilizada para atos ilícitos e crimes sexuais.
A proibição foi apresentada pela prefeita, Juliana Pavan, em uma reunião no gabinete, com representantes dos bairros de Taquaras, Estaleiro e Estaleirinho. O decreto será publicado e passará a valer após a sanção da lei que instituirá o novo Plano Diretor do município, em votação na Câmara de Vereadores.
De acordo com a prefeitura, o texto do novo Plano Diretor não prevê a reserva de praias da cidade para o naturismo – diferente do que está em vigor, de 2006, que formalizou a Praia do Pinho para a prática do naturismo.
Praia do Pinho, em Balneário Camboriú
PMBC/Divulgação
🏖️Como é a Praia do Pinho?
A Praia do Pinho é considerada a primeira praia de naturismo do Brasil. De fácil acesso, o espaço tem cerca de 500 metros de extensão e fica entre as praias de Laranjeiras e do Estaleirinho.
O nudismo existe no local desde 1980. A prática de não usar vestimentas no local é um dos principais fundamentos do chamado naturismo.
Pessoas de todas as idades podem frequentar a praia, de crianças a idosos, além de casais hetero ou homoafetivos. Homens solteiros também podem ficar na faixa de areia. Não é permitido fotografar ou filmar, mesmo de longe, a praia sem a autorização dos frequentadores.
É proibido atos de cunho sexual ou obscenos, porém o Complexo Turístico Praia do Pinho, afirma que, como pessoa jurídica, não pode interferir na faixa de areia, por ser área pública, e de total responsabilidade dos órgãos públicos.
Praia do Pinho, em Balneário Camboriú
Patrick Rodrigues/ NSC
🤔Qual a diferença entre nudismo e naturismo?
Segundo explica Susan Letícia Gals, integrante do movimento e tesoureira da Associação NuParaíso, responsável pela manutenção da Praia do Pinho, o naturismo pode ser classificado como uma "filosofia de vida que engloba várias atitudes e, dentre elas, o nudismo".
De acordo com Susan, os espaços são reconhecidos pelos municípios e pela Federação Brasileira de Naturismo (FBrN). A entidade possui regras para os visitantes, mas afirma que não há espaço delimitado para pessoas que querem andar nuas ou idade mínima para frequentar os espaços.
Não é permitido fotografar ou filmar a praia, mesmo de longe, sem a autorização dos frequentadores.
O que diz a Federação Brasileira de Naturismo
Confira abaixo a nota completa da Federação Brasileira de Naturismo.
A Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifesta profunda preocupação e pesar diante do encerramento da prática do naturismo na Praia do Pinho, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, em decorrência da aprovação da PL 10/2022 e das alterações introduzidas pelo novo Plano Diretor do município.
A Praia do Pinho não é apenas um espaço geográfico. Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza.
É fundamental esclarecer à sociedade alguns pontos que têm sido, reiteradamente, confundidos ou utilizados de forma inadequada no debate público.
Naturismo não é nudismo desordenado
O naturismo é uma prática regulamentada, baseada em valores claros: respeito mútuo, convivência social, ética, preservação ambiental e responsabilidade individual. Não se confunde, em hipótese alguma, com comportamentos inadequados, atos obscenos ou crimes sexuais.
Crimes são crimes — independentemente de onde ocorram — e devem ser combatidos com fiscalização, investigação e punição, não com a extinção de uma prática legítima e reconhecida mundialmente.
Criminalidade e omissão do poder público
Os próprios debates realizados na Câmara Municipal evidenciaram que práticas criminosas, inclusive de natureza sexual e relacionadas ao uso de drogas, ocorrem em diversos espaços públicos de Balneário Camboriú, e não exclusivamente na Praia do Pinho.
Diante disso, questionamos:
Por que a resposta escolhida foi abolir o naturismo, em vez de fortalecer a segurança, a fiscalização e a aplicação da lei?
Punir corretamente uma minoria que age fora das normas sempre foi, e continua sendo, mais eficaz do que eliminar um direito coletivo por falhas de gestão e ausência do Estado.
Ausência de associação local e responsabilidade compartilhada
Reconhecemos que a ausência de uma associação naturista local, forte e atuante, contribuiu para o enfraquecimento da defesa do espaço. Uma sociedade organizada é sempre mais respeitada — porém, também sabemos que nem sempre é fácil encontrar pessoas dispostas a assumir responsabilidades, enfrentar críticas e “colocar a cara a tapa”.
Ainda assim, a falta de organização civil não justifica a supressão de um direito cultural e social, especialmente quando existem instrumentos legais e administrativos para coibir abusos.
Interesses imobiliários e falso moralismo
A possível venda do Complexo do Pinho e a crescente especulação imobiliária na região levantam preocupações legítimas. O discurso moralista, em muitos casos, esconde interesses econômicos claros.
Em diversos momentos na Câmara Municipal foi dito sobre atos sexuais praticados em diversos locais, inclusive centrais de Balneário Camboriú e que não são áreas naturistas.
É importante lembrar que grande parte das pessoas que hoje pedem o fim do naturismo escolheu morar na região quando a praia já era oficialmente naturista, ou seja, tinham pleno conhecimento da vocação do local. Optar por mudar a lei, em vez de respeitar o ambiente escolhido, revela um comportamento egoísta e excludente.
Democracia, diversidade e respeito
Santa Catarina possui centenas de praias. Quantas se tornaram áreas restritas por empreendimentos imobiliários e não por ser área naturista? É realmente tão difícil garantir um pequeno espaço para quem escolhe viver e se expressar de forma diferente?
A democracia se constrói com diversidade, não com imposição de um único modo de pensar ou viver. Defender o fim de um espaço isolado, de acesso voluntário, não é proteção da moral — é negação da liberdade alheia.
Conclusão
A Federação Brasileira de Naturismo entende que o fim da Praia do Pinho como área naturista representa uma perda histórica, cultural e social, fruto de omissões, desinformação, interesses paralelos e intolerância.
Seguiremos defendendo o naturismo como prática legítima, ética e respeitosa, bem como o direito à diversidade, ao diálogo e à convivência democrática.
O combate ao crime se faz com lei, presença do Estado e punição aos culpados, não com a eliminação de direitos de quem sempre agiu corretamente.
Paula Silveira
Presidente da FBrN - Federação Brasileira de Naturismo
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